Nós jornalistas precisamos manter as nossas mentes abertas, porque tudo é possível no governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Vamos aos fatos. Temos publicado com grande frequência que o ministro da Economia, Paulo Guedes, está pela “bola sete”, um dito popular que se usa nas redações para dizer que a demissão é iminente. No recente episódio da troca de presidente da Petrobras, um amigo de Guedes, o economista neoliberal Roberto Castello Branco, foi demitido por Bolsonaro, que indicou para o lugar o general da reserva Joaquim Silva e Luna, 71 anos. Na última quinta-feira de fevereiro (24/02), o site UOL publicou uma reportagem com o título “Paulo Guedes: 10 casos em que o ministro foi ‘escanteado’ antes da intervenção na Petrobras”. De tanto levar rasteiras do presidente, Guedes desenvolveu uma estratégia para evitar maiores desgastes à sua imagem. Ele some por um tempo e depois reaparece ao lado do presidente, que diz que nada aconteceu e que o ministro continua sendo o seu “Posto Ipiranga”, apelido que ganhou de Bolsonaro para indicar que ele é a solução para os todos os problemas, como diz o comercial da marca.
Bolsonaro está prestigiando Guedes da boca para fora. Não é opinião, é fato. Foi assim com o então ministro da Saúde, o médico Luiz Henrique Mandetta, substituído pelo seu colega Nelson Teich, que se demitiu porque não aceitou obedecer as ordens negacionistas do presidente em relação ao poder de contágio e a letalidade da Covid-19. Assumiu no seu lugar o general da ativa do Exército Eduardo Pazuello. O general consolidou o negacionismo do presidente em uma política de governo que resultou em casos como os de Manaus (AM) e do interior do Pará, onde pessoas contaminadas pelo vírus morreram nos hospitais asfixiadas por falta de oxigênio. Guedes assistiu a tudo isso sem abrir a boca. Também foi assim com o ex-juiz federal Sergio Moro, o símbolo da Operação Lava Jato, que condenou, e teve a sentença confirmada em outras instâncias, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), abrindo caminho para a vitória de Bolsonaro nas urnas. Moro entrou no governo e tornou-se ministro da Justiça e Segurança Pública pelas mãos de Guedes. Foi fritado e demitido pelo presidente, entre outros motivos, por ser mais popular do que ele. No lugar de Moro assumiu André Mendonça, um homem obediente às ordens do presidente. Não se tem registro de que Guedes tenha se pronunciado sobre o assunto.
Guedes não tem se metido nos assuntos de Bolsonaro. Mas o presidente tem se metido nos assuntos do ministro da Economia. Desde os tempos da campanha eleitoral para a Presidência da República, em 2018, Bolsonaro tem dito que não entende nada de economia. E que é tudo com Guedes. O que houve? Ele aprendeu a lidar com a economia? A imprensa simplesmente está ignorando a possibilidade de que o presidente esteja à procura de um novo “Posto Ipiranga”. Vasculhando os noticiários sobre economia o que se encontra são notícias do enfraquecimento político do ministro. E o máximo que se avança sobre o futuro é que o ministro pode pedir para sair. E que isso causaria um caos no mercado. No episódio da Petrobras, o presidente mostrou que está se lixando para o mercado. Como mostrou a troca de presidente da Petrobras, que desvalorizou a empresa em alguns bilhões de reais – há matéria na internet. Aliás, aqui quero chamar a atenção dos meus colegas. Bolsonaro começou a desafiar o mercado recentemente – há várias declarações deles sobre o assunto na internet. Até então, ele baixava a cabeça e se comportava como criança assustada sempre que se dizia alguma coisa que não agradava o mercado. Essa mudança de comportamento pode significar que ele encontrou o seu novo “Posto Ipiranga”? Seja lá quem for ele, uma das condições para ocupar o posto de Guedes é obedecer as ordens do presidente. Com esse perfil, Bolsonaro tem buscado gente nas Forças Armadas, tipo o general Pazuello. Nem mesmo nos tempos da Ditadura Militar (1964 a 1985) um general ocupou o Ministério da Economia. Naquele período houve 15 ministros efetivos e três interinos, entre eles o professor Antônio Delfim Netto, hoje com 92 anos, professor, economista e político. Aqui há uma diferença. O governo militar aconteceu durante a Guerra Fria, travada entre os Estados Unidos, capitalistas, e a União Soviética, comunista. Os militares tinham um projeto para o país. Bolsonaro tem um projeto para blindar os interesses da sua família. E ele surfa no prestígio das Forças Armadas para manter a imagem de competência. Se no final do governo nada der certo, o presidente deixa a fatura para os militares pagarem perante a opinião pública. Lembramos que hoje o general Pazzuelo, da Saúde, é o símbolo da incompetência no Brasil. Portanto, se ele procurar um general para substituir Guedes, a principal exigência para o posto é que obedeça as ordens do presidente.
Outro lugar em que o presidente pode procurar o seu novo “Posto Ipiranga” é no Centrão, que recentemente se tornou a base parlamentar do governo. Mas há um problema. Os partidos que fazem parte do Centrão defendem os seus interesses em primeiro lugar. E farão parte do governo enquanto houver cargo para ocupar. Aqui uma pergunta, que devemos responder para o nosso leitor. Guedes convenceu Bolsonaro de que o caminho para o sucesso econômico e, por consequência, a sua consolidação como presidente, era implantar no Brasil o neoliberalismo radical. Ele tentou. Mas não decolou. Até porque não existe no mundo país que tenha uma única linha econômica. Mesmo nos Estados Unidos, o modelo econômico é uma mistura de várias escolas. Descontado os estragos que a pandemia causou à economia, Guedes não conseguiu entregar o que prometeu a Bolsonaro. Será que existe alguém no Centrão que está fazendo a cabeça do presidente, dizendo que o mercado não tem o poder que Guedes tem pregado? Os repórteres que fazem cobertura de futebol têm uma lição para ensinar aos colegas que lidam com economia nas redações. Sempre que um dirigente elogia um técnico que perde uma partida importante é porque está procurando o seu substituto. E Bolsonaro adora futebol.