O governo federal entregou a cabeça do delegado Fernando Segovia, 48 anos, para a Polícia federal (PF) como uma compensação pela perda de poder que a instituição teve com a sua transferência do Ministério da Justiça, fundado em 1822, para o recém criado Ministério da Segurança Pública, uma aventura governamental em uma das áreas mais conturbadas do país. O delegado Segovia assumiu a direção-geral da PF em novembro do ano passado, substituindo Leandro Daiello, que esteve no cargo de 2011 a 2017, período em que consolidou a Operação Lava Jato, que, pela sua envergadura, trouxe um imenso prestígio para a instituição. O primeiro ato importante do novo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, 65 anos, foi demitir Segovia e colocar no seu lugar o delegado Rogério Galloro, que foi braço direito de Daiello. Segovia foi colocado no cargo pelo presidente da República, Michel Temer (MDB SP), com a missão de atrapalhar a Lava Jato, tarefa que cumpriu com grande eficiência – há uma abundância de reportagens disponíveis na internet. O delegado Segovia não perdeu o seu cargo pelo desgaste que teve junto à instituição, combatendo a Lava Jato. Perdeu porque o grupo político do Temer encontrou um meio mais eficiente de travar a Lava Jato, que é transferindo a PF da Justiça para a Segurança Pública.
Esse é o cenário que gostaria de discutir com os meus colegas, repórteres calejados, e os novatos na profissão. Vamos olhar essa transferência da PF com uma lupa. É do conhecimento geral que os ministérios disputam a ponta de faca o bolo das verbas federais. O Ministério da Justiça tem poder nessa disputa pela sua tradição e pela importância na estrutura do governo federal dos seus departamentos. A saída da PF não vai esvaziar a Justiça. Mas vai prejudicar a PF, que deverá bater de frente com os seus novos parceiros, que serão as polícias Civis e Militares do Brasil. Em vários estados, a Civil e a Militar têm sérios problemas nos seus quadros, devido aos baixos salários que são pagos aos policiais. Muitos desses agentes conseguem sobreviver fazendo bicos de segurança. Outra parte significativa do contingente sobrevive se envolvendo com corrupção. O Rio de Janeiro é um exemplo do que estou falando – há várias reportagens na internet sobre o assunto.
Um dos esteios do Ministério da Segurança Pública é a troca de informações entre a PF, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e as polícias Civis e Militares dos estados. Hoje isso já acontece, só que de maneira seletiva. A PF tem os seus grupos de policiais civis e militares de confiança nos estados, especialmente naqueles que fazem fronteira com países vizinhos que servem de refúgio para o crime organizado brasileiro, como é o caso do Paraguai, onde estão refugiadas as cúpulas do Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, e do Primeiro Comando da Capital (PCC). Se alguém imaginar que a PF irá compartilhar os seus precisos bancos de dados de maneira irrestrita com as polícias Civil e Militar, está sonhando. Isso nunca irá acontecer. O ministro Jungmann sabe disso por ser um dos maiores conhecedores da máquina administrativa do Brasil. E também por estar perfilando entre os políticos mais hábeis do Brasil. Ele foi militante do PCB e um dos fundadores do PPS. Há outro fator: como vai ser a convivência dos agentes da PF e da PRF que ganham salários significativos e pagos em dia com os seus colegas das polícias Civil e Militar, que ganham soldos baixos, recebidos com atraso.
Todas essas contradições serão responsáveis pelo fracasso do novo Ministério da Segurança Pública. A sua criação é uma aventura do governo federal, em um momento em que o país enfrenta uma das piores ondas de criminalidade da sua história. E o efeito colateral será a criação de enormes dificuldades para a Operação Lava Jato. Essa é a realidade. O resto é conversa fiada.
Vão aumentar o Salário das Polícias Civil e Militar. Pagarão para que sejam o novo braço armado da Ditadura da toga. Daqui a pouco voltam com uma PEC que tá lá e iguala salarios das PMs aos de BSB. Estamos falando de um Estado Policial contra o povo e em parte controlado pelo narcotráfico. É a mexicanização do Brasil em andamento.
Gostei da maneira como tu resumiu o problema. Mas é muito mais sério.
Bem mais.