Sobre deuses gregos, repórteres, leitores e um episódio mal contado das eleições do segundo turno em Porto Alegre

Para os repórteres, ao que parece, é coisa do passado a história dos vencedores e dos perdedores no segundo turno das eleições para prefeito em Porto Alegre. Mas falta contar o capítulo sobre como os dois candidatos chegaram lá. Ele aconteceu ao longo do dia 18, uma segunda-feira. Durante a madrugada, uma ventania, confundida com um atentado a tiros, quebrou vidros e espalhou pânico na sede do comitê do PSDB. Paralelamente, ocorreu um incêndio criminoso em uma sala do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), onde eram guardados documentos relativos a uma apuração de fraude. Na tarde do mesmo dia, foi encontrado morto Plínio Zalewski, coordenador da campanha do candidato do PMDB à prefeitura, na sede do próprio partido. Um episódio trágico que a polícia trata como suicídio e que, como era de se esperar, causou comoção suficiente para paralisar por 24 horas a campanha eleitoral.
O que aconteceu são fatos raros e intrigantes em uma acirrada disputa eleitoral, os quais semearam desconfiança entre os leitores. Cabe a nós esclarecer. E o que publicamos a respeito são notícias fragmentadas, que isolam qualquer tipo de ligação entre os três fatos. Se existe uma ligação, ou não, temos de esclarecer ao leitor. Há muita coisa solta no ar. Por exemplo: quando falaram que a ventania era um atentado a tiros, nós publicamos. Mas algum repórter foi até lá procurar marcas de bala nas paredes? Ou teria sido barrado à entrada do prédio e não contou isso? Nada sabemos.
E sobre o incêndio no DEP, a polícia já definiu uma linha de investigação? A respeito da morte de Zalewski, devemos explicar direitinho como alguém se degola, numa prática de suicídio esquisita, para se dizer o mínimo.
Nosso leitor exige saber o que ocorreu. E ele paga, muito caro, pela informação que consome. Não precisa ser gênio para dizer que a fuga de assinantes e de anunciantes dos jornais, sites e de outros noticiários tem a ver com a arrogância da indústria da comunicação.

Não somos deuses gregos, senhores. Somos repórteres, contadores de histórias. E sempre que publicamos alguma mal contada, ela se torna um fantasma a nos assombrar. Tenho fé de que os professores das faculdades de Jornalismo irão avaliar em sala de aula o que publicamos. Aliás, não existe melhor escola de jornalismo do que a autópsia do que escrevemos, falamos e das imagens que divulgamos sobre a vida das comunidades.

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