A disputa pela presidência dos Estados Unidos entre a democrata Kamala Harris, 59 anos, e o republicano Donald Trump, 78, ainda está muito longe de estar decidida. Até as eleições, previstas para a terça-feira, 5 novembro, muita água vai passar por debaixo da ponte, como diz o dito popular avisando a possibilidade do surgimento de imprevistos. No começo da disputa, Trump era o preferido. A indefinição surgiu porque o partido Democrata recuperou a sua competitividade na campanha eleitoral. A recuperação deve-se à maneira como foi feita a troca de candidato e como ela foi explicada para o grande público. É sobre isso que vamos falar. Vamos à história. Em 2020, o então ex-vice-presidente Joe Biden derrotou Trump, que buscava a reeleição. Foi uma disputa muito acirrada. Na campanha, Biden avisou que, caso ganhasse, não iria concorrer à reeleição em 2024. Com isso, retirou do seu adversário a bandeira de que estava concorrendo contra um velho. Trump foi derrotado e tentou evitar a posse do Biden e da sua vice Kamala Harris incentivando os seus seguidores a invadirem o Capitólio (Congresso) no dia 6 de janeiro de 2021. Na ocasião, cinco pessoas morreram, várias ficaram feridas e dezenas foram presas.
Biden e Kamala assumiram o governo e, à medida que o tempo passava, o presidente dos Estados Unidos começou a espalhar a ideia de que seria candidato em 2024, ao contrário do que tinha indicado durante a campanha eleitoral. A ideia da reeleição ganhou corpo e se consolidou durante as eleições primárias democratas, quando Biden não teve adversários e acabou sendo aclamado como o candidato do partido, novamente com Kamala Harris como companheira de chapa. E assim foi até o dia 26 de junho de 2024, quando Biden sofreu uma pane mental durante um debate com Trump, na rede de TV CNN. Antes de seguir em frente vou fazer algumas observações que considero importantes. Se Biden tivesse cumprido a palavra e, em vez de se lançar candidato, indicado a sua vice para concorrer, ele teria turbinado a candidatura de Kamala Harris? Não. Ela seria uma presa fácil para a máquina eleitoral montada por Trump, que é poderosa e organizada e tem como lastro as notícias mentirosas, as fake news. Esta máquina, em 2016, foi responsável pela vitória do ex-presidente na disputa contra a democrata Hillary Clinton, 76 anos. A eficiência da máquina de fake news somou-se o fato de que em 13 de julho, um sábado, durante um comício em Butler, na Pensilvânia, o jovem Mathew Crooks, 20 anos, usou um fuzil AR-15 para fazer vários disparos contra Trump, atingindo o ex-presidente de raspão na orelha direita, além de ferir outras duas pessoas com gravidade e matar o bombeiro voluntário Corey Comparato, 50 anos. Crooks foi morto por atiradores de elite do Serviço Secreto. Na ocasião, os seguidores do ex-presidente consideraram o episódio a “pá de cal” na candidatura democrata. Termino aqui a observação. Voltando a nossa conversa. Ao contrário do que acreditaram os republicanos e seus aliados pelo mundo afora, como os seguidores do ex-presidente da República do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), 69 anos, o atentado não fez Trump disparar nas pesquisas eleitorais. Em 16 de julho, publiquei o post Todos condenaram o atentado contra Trump. Dizer que o elegerá é apressado.
Por que Trump não disparou nas pesquisas? Por vários motivos, vou perfilar o que considero o principal. Naquela semana, a discussão sobre a desistência de Biden de concorrer à reeleição ocupava todos os espaços nobres na imprensa americana e em vários cantos do mundo, incluindo o Brasil. Lideranças democratas, como os ex-presidentes Barack Obama, 63 anos, Bill Clinton, 78 anos, parlamentares, artistas de Hollywood e outras personagens estavam envolvidos na tarefa de convencer Biden a desistir. Um fato importante. Durante todo o episódio, a vice Kamala Harris ficou ao lado do presidente. Em nenhum momento ela insinuou estar na briga pelo cargo. A maioria dos analistas políticos a chamaram de “omissa”. Estou do lado dos que descreveram o seu comportamento como lealdade ao seu companheiro de chapa. No dia 21 de julho, um domingo, Biden anunciou que desistia de concorrer e indicou a sua vice como candidato. Toda a operação foi conduzida pelas lideranças democratas de uma maneira a não deixar “rachas” no partido. E foi vendida para a opinião pública como o renascer dos ideais americanos. Biden foi tratado como um herói, um homem que desistiu dos seus interesses pessoais pelo bem do país. Em 23 de julho, publiquei o post Biden desiste da reeleição e deixa uma história a ser apurada pela imprensa. Desde que assumiu o seu mandato, em 2021, tenho escrito que a imprensa, especialmente a dos Estados Unidos, o trata com preconceito devido a sua idade. Além de velho, ele é gago. Sei o que significa por ser velho, 73 anos, e ter sido gago. Harris foi apresentada aos democratas e aos eleitores como uma pessoa que veio para desmontar o império de mentiras e sacanagens de Trump e os seus seguidores. Em todas as suas falas, ela lembra que foi promotora de Justiça da Califórnia e que o ex-presidente é um condenado – há matérias na internet.
Lembro que em 2016, quando derrotou Hillary Clinton, a maneira de fazer política de Trump era novidade: arrogante, mentiroso, chutando as canelas dos jornalistas, pregando o fim da imprensa tradicional e o alvorecer das mídias sociais. Na época, escrevi que o sistema de comunicação do então presidente americano lembrava o montado pelo ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels (1897-1945), durante o regime de Adolf Hitler. Resumindo a história. Obama, Clinton, Biden, Michelle Obama e Hillary Clinton, todos oradores de primeira linha, durante a convenção dos democratas afirmaram que Kamala é o futuro. E que Trump é um mentiroso truculento que lembra a Alemanha de Hitler. Se vai funcionar vamos saber depois das eleições. Por hora, o favoritismo de Trump diminui. Mas ele continua favorito.