Fim da Força de Pronta Resposta é boa notícia para os assaltantes de banco

A paz dos moradores das pequenas cidades gaúchas foi substituído pelo medo de virar refém dos assaltantes de banco. Foto: arquivo pessoal

A grande imprensa tratou de maneira burocrática a decisão do governador do Estado, Eduardo Leite (PSDB), de desativar a Força Gaúcha de Pronta Resposta. Como se fosse uma praga que destrói a lavoura, na última década os bandidos montaram e aperfeiçoaram um método de atacar bancos e caixas eletrônicos nas pequenas cidades. A tática é conhecida como “novo cangaço”, por imitar o modo de operar do famoso cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, que nos anos 30 espalhou o terror pelo sertão nordestino saqueando pequenas cidades. Nos tempos atuais, os quadrilheiros atacam os bancos e usam a população local como escudo para se proteger da ação da polícia. Nessa última década já aconteceram mortes de reféns, bandidos e policiais. A saída da Força Gaúcha de Pronta Resposta pode significar uma tragédia anunciada. Por quê?

A história responde a essa pergunta. Montada em 2018 com um efetivo que chegou a 100 policiais, equipada com 18 veículos com tração nas quatro rodas e armamento de última geração, a Força de Pronta Resposta funcionava como se fosse um cachorro brabo no pátio da segurança pública. A maior vantagem das quadrilhas é o fator surpresa. Elas aparecem do nada. A Força também ficava rodando pelo Estado e aparecia do nada. Muitas vezes acontecia de o assalto estar sendo realizado e a Força ser avisada a tempo de armar uma cilada para os bandidos nos arredores da cidadezinha – há matéria na internet.

Como repórter, testemunhei o nascimento desse tipo de quadrilha, o seu desenvolvimento e a consolidação do sucesso do seu modo de agir. São várias quadrilhas, na sua grande maioria formada por bandidos calejados na lida dos assaltos. A Força também era formada por gente experiente: brigadianos (como o gaúcho chama o policial militar), policiais civis e técnicos em perícia criminal que haviam se aposentado e voltaram ao trabalho para dar combate aos ataques a bancos nas cidades pequenas do interior.

Resumido: a Força de Pronta Resposta era formada por um grupo pequeno de policiais, calejados, treinados, equipados com armas novas e que andavam rodando pelas estradas. A alegação do governo Leite para desativar a Força é a aglutinação de várias unidades da Brigada Militar (BM) que resultaram na formação de três Batalhões de Operações Especiais (BOPE), semelhantes aos do filme Tropa de Elite. Somado ao reforço de efetivos novos na BM e a redução dos índices de criminalidade no Rio Grande do Sul, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. Aqui é o seguinte. Como vai funcionar o sistema de proteção às pequenas cidades? Conversei com 10 prefeitos. Nenhum deles tinha sido informado sobre o assunto. Um lembrou que o prejuízo deixado pelos ataques das quadrilhas não é só da seguradora do dinheiro. É também do comércio varejista da cidade. Após o ataque, a maioria dos bancos fecha as agências e retira os caixas eletrônicos. Isso exige que o correntista se desloque para outra cidade, geralmente o polo comercial da região, para ter acesso aos serviços bancários. E acaba realizando as suas compras por lá, deixando de ser cliente no comércio da localidade onde mora. Mais ainda: a paz, que sempre foi marca registrada das pequenas cidades, acabou com os ataques a bancos.

Com a desativação da Força de Pronta Resposta qual será a estratégia do governo para combater as quadrilhas que infernizam a vida dos moradores das pequenas cidades? Essa é uma das tantas perguntas que precisam ser respondidas pelas autoridades. O que se publicou até agora é um amontoado de informações sem sentido. Acredito que o esclarecimento desse caso seja uma oportunidade para o repórter ser relevante para o seu leitor. É bom lembrar que as quadrilhas que atacam os bancos e os caixas eletrônicos nas pequenas cidades são organizadas, violentas e eficientes. Todos sabem disso. Inclusive o governo do Estado.

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