Militares no governo: quantos são, que funções ocupam e qual é o salário?

Presidente Bolsonaro tornou o seu governo um grande empregador de militar da reserva e da ativa. Foto: Reprodução.

Vamos começar a nossa conversa por onde há consenso entre nós jornalistas e os técnicos do governo federal. Jair Bolsonaro (sem partido) é o presidente da República que na história recente do Brasil mais contratou para o seu governo militares da ativa e da reserva das Forças Armadas e das polícias militares estaduais. Algo que não aconteceu com tanta intensidade nem mesmo durante a ditadura militar (1964 a 1985). Porém, na questão da quantidade de militares contratados não há concordância nem mesmo entre as redações. Temos publicado números que oscilam entre 3 mil a 6 mil. O governo tem dito que o contingente é bem menor, ao redor de 500. 

Em nome da precisão jornalística temos que chegar a um consenso sobre o número de militares na administração federal. Antes de seguir contando a história. O presidente tem o direito de chamar militares da reserva e da ativa para o seu governo, respeitando a legislação que regula o assunto. Bem como os militares da reserva têm o direito constitucional de trabalhar. Agora seguindo com a história. A questão dos números é importante. Mas não é urgente. A urgência é saber qual cargo ocupam e onde estão lotados. Por quê? O surgimento do dossiê ilegal produzido pela Secretaria de Operações Integradas (Seopi), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, acendeu uma luz vermelha nas redações. O dossiê listou 579 funcionários federais e estaduais da área de segurança, mais três professores universitários, como integrantes do “movimento antifascismo”. Isso é ilegal. A ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia considerou “arapongagem” – termo que significa investigação clandestina. Toda a história desse dossiê foi publicada pelo colunista Rubens Valente, do UOL. 

O desdobramento dessa história: o coronel Gilson Libório, responsável pela Seopi, foi demitido pelo ministro da Justiça, André Mendonça, que substituiu Sergio Moro, em abril. Quem mandou o coronel fazer o dossiê? Pelo que foi apurado até agora a responsabilidade não foi nem de Moro nem de Mendonça. O cargo esteve vago durante uma semana e teria sido durante esse período que o documento surgiu. Então o dossiê foi coisa da cabeça do coronel? Ninguém sabe. O fato é o seguinte. Todas as nossas informações estão armazenadas nos órgãos do governo federal, especialmente na Receita Federal. A moeda do futuro são as informações a nosso respeito. A segurança que nós temos é que os funcionários que lidam com essas informações são de carreira. Portanto, respondem juridicamente pelas suas responsabilidades. Existem militares ocupando cargos com acesso a informações econômicas dos brasileiros? Não sabemos. O que sabemos é que um dos ministérios estratégicos, o da Saúde, é dirigido por um general, Eduardo Pazuello. E que ele colocou duas dezenas de colegas de farda em postos-chave do ministério. 

Chegamos a um ponto importante da nossa história. O governo do presidente Bolsonaro é apoiado por grupos exóticos, tipo terraplanistas, evangélicos fundamentalistas, nazistas, ocultistas, militares saudosistas do golpe de 1964 e um punhado de oportunistas. A maioria desse pessoal tem compromisso com os seus interesses políticos, econômicos e ideológicos. Exemplo: recentemente uma menina que vinha sendo estuprada desde os seis anos engravidou e o nome dela, endereço e todas as informações foram vazadas pelas redes sociais por Sara Winter, militante bolsonarista ligada ao Gabinete do Ódio, como são chamadas as pessoas do círculo pessoal do presidente. Todo circo que foi armado no caso teve a participação de pessoas ligadas ao bolsonarismo. 

Já foi dito e escrito por nós nas nossas matérias. A ideia inicial dos bolsonaristas era rechear a máquina administrativa do governo com militares da reserva e da ativa com a intenção de assustar os parlamentares e a população civil, principalmente os velhos que viveram o golpe militar de 1964. Não funcionou porque as instituições, como o STF e a imprensa, se encarregaram de manter os compromissos do país com a democracia. Mais ainda: a máquina administrativa federal está emperrada, causando problemas sérios para quem precisa dos serviços públicos federais. É importante para o nosso leitor que se consiga explicar de maneira simples e direta o que os militares da ativa e da reserva estão fazendo no governo. Eles estão ali só para informar o presidente Bolsonaro do que acontece dentro das quatro paredes dos ministérios? Esse tipo de preocupação faz parte do cotidiano do presidente.  O certo é que a presença de militares na máquina governamental não aumentou a eficiência do serviço público prestado ao usuário. Muito pelo contrário. Como mostra a realidade.

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