Discurso de Bolsonaro na ONU oficializou o negacionismo como política de governo

O negacionismo do presidente já custou aos país vidas, empregos e fuga de capitais. Foto: Reprodução.

Como tudo no cotidiano do presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido), não foi planejado. Aconteceu e ele aproveitou a oportunidade. Assim foi com a estratégia do negacionismo abraçada pelo presidente, que acabou se tornando uma política de governo. Aqui uma explicação para facilitar a vida do leitor. Há uma diferença entre política de estado e de governo. A de estado é permanente, seja lá quem for o governante terá que seguir porque já foi determinada. A de governo é aquela adotada pelo ocupante do cargo, e ela é um componente ideológico de quem foi eleito. Voltando à nossa conversa. Desde os tempos em que era tenente do Exército, Bolsonaro viveu com um pé no lado da razão e outro no da negação. Hoje, capitão reformado e presidente do Brasil, continua adotando a mesma estratégia. Só que agora o jogo é outro. É sobre isso que quero refletir e conversar com os meus colegas repórteres e com os leitores que precisam se organizar para pensar o futuro de suas famílias.

Vamos recuar no tempo. Durante seus 30 anos como parlamentar, primeiro vereador do Rio de Janeiro e depois deputado federal, Bolsonaro se tornou conhecido porque negou que em 1964 tivesse acontecido um golpe de estado no Brasil. Também elegeu como seu herói torturadores de presos políticos como o coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra (falecido em 2015). Há documentos oficiais, livros e centenas de publicações que comprovam que houve um golpe militar em 1964 e que Ustra foi um torturador. O perfil parlamentar de Bolsonaro o tornou uma figura exótica. Ele se elegeu presidente da República e as coisas mudaram. A primeira vez que escrevemos nos jornais que ele era negacionista foi na questão da Covid-19. Já com um currículo de alta letalidade nos países europeus, o vírus começou a se instalar e matar no Brasil. O presidente chamou então de “gripezinha” uma doença que já custou a vida de mais de 130 mil brasileiros, e que continua matando. Enquanto isso, livrou-se de dois ministros da Saúde, entre eles o médico Luiz Henrique Mandetta, e colocou no lugar deles o general da ativa do Exército Eduardo Pazuello. Que deu suporte ao negacionismo do presidente referente ao vírus e também quanto ao uso da medicação cloroquina, que vários estudos nacionais e internacionais comprovaram não ter efeito contra a Covid-19. Aliás, até agora (23/09) não existe tratamento para a doença e muito menos vacina. A única estratégia recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é o afastamento social. Claro, Bolsonaro nega a eficiência dessa estratégia. Qual o tamanho da responsabilidade do presidente nas mais de 130 mil mortes de brasileiros? Essa pergunta será respondida pelos tribunais internacionais no futuro.

O passo seguinte do presidente foi desestabilizar o então ministro da Justiça e Segurança Pública, o ex-juiz federal Sergio Moro, que ficou famoso no combate à corrupção na Operação Lava Jato. Bolsonaro tentou usar a Polícia Federal (PF) como se fosse sua propriedade. Moro resistiu e acabou se demitindo. No seu lugar assumiu André Mendonça, que a exemplo do general Pazuello usa o ministério para respaldar as teses negacionistas do presidente na área da segurança pública, como no caso da flexibilização do porte de armas. Ainda não se tem um estudo encorpado sobre o efeito da pregação que Bolsonaro faz pelo armamento da população sempre que tem uma oportunidade. O que existe de certo é um retrocesso do país na questão do desarmamento. A influência do presidente na Polícia Federal é hoje escandalosa. Custo disso: a perda de credibilidade da PF e a montagem de uma bomba-relógio na questão do desarmamento. O presidente também é negacionista sobre a competência dos funcionários públicos civis para executarem as suas funções. Tanto que colocou a trabalhar na máquina administrativa do governo federal 6.157 militares da reserva e da ativa das Forças Armadas e das polícias militares do Brasil. Na questão da derrubada e dos incêndios na Floresta Amazônica, Bolsonaro sempre negou o tamanho do problema. Agora tem ao seu lado o seu vice-presidente, Hamilton Mourão, que está mais preocupado em provar que as informações divulgadas não são corretas do que em resolver o problema. Aqui é o seguinte: investidores internacionais de grosso calibre já avisaram o governo do Brasil que se o problema da Amazônia não for resolvido não vão mais colocar o seu dinheiro no país e pior: vai haver boicote aos produtos brasileiros nos mercados internacionais.

Onde entra o nosso trabalho de repórter nesse rolo. Nós temos que deixar claro para o nosso leitor que o presidente Bolsonaro está brincando de roleta-russa. Vejamos: ao adotar o negacionismo como política de governo, o presidente armou um palco permanente para ele brilhar. Por quê? Sempre será contestado nos quatro cantos do mundo, em especial no Brasil, pelas suas crenças referentes à Covid-19, incêndios da Floresta Amazônica e outras esquisitices. Essa exposição pública do presidente é responsável por uma boa parte da sua popularidade. Mas a que preço? Vidas humanas, no caso do vírus, criação de novos empregos às custas da devastação da floresta e vai por aí afora. A política negacionista está causando um dano real à economia do Brasil e deixando sérios problemas ambientais para as futuras gerações. É uma questão complexa. Mas nós repórteres temos que traduzi-la em matérias curtas, objetivas e de fácil entendimento para auxiliar o nosso leitor a compreender a situação. As simpatias políticas são um assunto de foro íntimo do leitor. A nossa parte é informá-lo do que está acontecendo.

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