Governo Bolsonaro entendeu que é acusado de dois crimes contra a humanidade?

General Pazuello dando a versão dele de como instalou-se o caos no combate a Covid – 19 no Brasil. Foto: EBC

Independentemente das conclusões da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado, a CPI da Covid-19, que investiga a responsabilidade do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na morte de 435 mil brasileiros pela pandemia causada pelo vírus. E também do resultado dos inquéritos da Polícia Federal (PF) que investigam o envolvimento do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no contrabando de madeiras extraídas ilegalmente da Floresta Amazônica para os Estados Unidos. O que já foi apurado até aqui nesses dois casos mostram o comprometimento do governo Bolsonaro com os dois crimes. No caso da CPI da Covid-19: muitas das 435 mil vítimas poderiam estar vivas se o então ministro da Saúde e general da ativa do Exército Eduardo Pazuello não tivesse tornado em política de governo o negacionismo do presidente em relação ao poder de contágio e letalidade do vírus. Entre os mortos existem os de Manaus (AM) e do interior do Pará, que morreram asfixiados por falta de oxigênio hospitalar. Não por outro motivo que o depoimento de Pazuello teve um público recorde acompanhando pela TV, como se fosse o capítulo final de uma novela. O caso do contrabando de madeira para os Estados Unidos: na quarta-feira (19/05), 160 agentes da PF cumpriram 35 mandados de busca e apreensão no Ministério do Meio Ambiente e afastaram dos cargos 10 funcionários, incluindo Eduardo Bim, presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). É sobre isso que vamos conversar.

Antes de desfilar os fatos da história que vou contar, como se dizia para os carrancudos editores dos tempos das máquinas de escrever nas redações, considero importante repetir o alerta que venho fazendo a meus colegas, principalmente os jovens repórteres que estão nas redações envolvidos na cobertura do dia a dia. Para entender como funcionam as entranhas do governo do presidente Bolsonaro é importante estudar a história da Alemanha nos 30, quando os nazistas começaram a sua escalada para o poder. Por quê? Simples. A tática é a mesma. Vendem para a população uma narrativa dos fatos montada por uma poderosa máquina de fake news que nos anos 30 foi idealizada por Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Adolph Hitler. Essa máquina foi ressuscitada e aperfeiçoada pelo americano Steve Bannon e usada para eleger o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump (republicano) em 2016. No Brasil, a máquina de fake news recebeu alguns ajustes e está funcionando a todo o vapor no Gabinete do Ódio, como foram apelidados pela imprensa os assessores ao redor de Bolsonaro, incluindo os seus três filhos parlamentares: Carlos, vereador do Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal por São Paulo. Iniciando o desfile dos fatos da história. Tenho escrito e dito que a CPI da Covid-19 pode ser para o governo Bolsonaro o Tribunal de Nuremberg em que os Aliados julgaram os criminosos nazistas da Segunda Guerra Mundial. E recolheram muitos depoimentos para entender como cidadãos comuns, médicos, intelectuais, empresários e uma boa parte do povo alemão foram convencidos a aderir ao nazismo – há documentários, filmes e um vasto material disponível na internet.

Os estragos que o negacionismo do presidente Bolsonaro causou e causa diariamente no combate à pandemia não têm nada a ver com a disputa política. Têm a ver com loucura. É justamente isso que a CPI da Covid-19 vem mostrando. Por falta de vacinas os brasileiros dificilmente escaparão de uma terceira onda de ataque do vírus. A segunda onda, que terminou há poucas semanas, colapsou os serviços de saúde público e privado em 25 dos 27 estados. A estratégia do governo para se defender na CPI tem dois pilares: o primeiro é tumultuar as sessões com o objetivo de embaralhar o resultado da apuração dos senadores. O segundo é a continuação da pregação da negação ao vírus pelo presidente Bolsonaro. A estratégia tem como objetivo assegurar a reeleição do presidente. Ele e seus seguidores não entenderam que a conclusão do trabalho da CPI vai para os tribunais internacionais. E que se foram julgados culpados por genocídio estarão ferrados.

O caso do contrabando da madeira extraída ilegalmente da Floresta Amazônica. Os ecologistas e autoridades do mundo inteiro, entre elas o presidente dos Estados Unidos Joe Biden (democrata), consideram essa floresta fundamental para manter o equilíbrio do clima do mundo. Inclusive, Biden advertiu Bolsonaro durante a campanha eleitoral que disputou com Trump (que concorria à reeleição) em 2020 que a devastação da Amazônia tinha que parar. Caso contrário, o Brasil sofreria represálias comerciais. O presidente do Brasil, que é aliado de Trump, fez “ouvidos de mercador” para a advertência de Biden e manteve no cargo o ministro Salles, que facilitou a invasão de áreas indígenas por garimpeiros, grileiros (invasores de terras da União) e madeireiros ilegais. A descoberta do contrabando de madeira contou com a colaboração das autoridades dos Estados Unidos. Muito mais que um monte de toras apreendidas, que somam 131 mil metros cúbicos, suficientes para encherem 6.243 caminhões, é a prova material para o governo Biden colocar contra a parede as autoridades brasileiras. Se houver retaliação dos americanos contra o Brasil quem vai pagar a conta é o agronegócio. A devastação da Floresta Amazônica prejudica a humanidade.

Arrematando a nossa conversa. Pazuello, no Ministério da Saúde, e Salles, no Meio Ambiente, fizeram o serviço sujo para o presidente, que por serem seus eleitores sempre defendeu os interesses dos desmatadores da Floresta Amazônica e os negacionistas da Covid. Os 435 mil mortos pelo vírus e as árvores derrubadas ilegalmente na floresta são crimes contra a humanidade. Nós jornalistas precisamos ficar muito atentos aos rumos que CPI da Covid e os inquéritos da PF sobre o contrabando de toras para os Estados Unidos vão tomar porque influenciará no destino que o Brasil terá perante a comunidade internacional nos próximos anos. Como costuma dizer o general Pazuello: “é simples assim”.

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