Jornalistas não esquecem da fama de agosto na política nacional

Até o final do mês saberemos qual foi a influência da PEC da Bondade nas pesquisas eleitorais. Foto: Reprodução

O bom e velho jornalismo não tem espaço para imprecisões. Mas que elas existem, existem, e não tem nada de mal falar porque não são fake news, mas fatos. Desde que comecei a trabalhar como repórter, em 1979, ouvi na redação que o mês de agosto não era legal para a política nacional. Foi em 24 de agosto de 1954 que o então presidente da República Getúlio Vargas se suicidou com um tiro. Em 25 agosto de 1961, Jânio Quadros, que ocupava a Presidência havia pouco mais de meio ano, renunciou com a intenção de voltar ao poder pelos braços do povo. Não voltou. Mas deflagrou uma crise nacional porque as Forças Armadas não queriam que o vice-presidente João Goulart, o Jango, do antigo PTB, assumisse. Ele só tomou posse porque o governador gaúcho da época, Leonel Brizola, ergueu o Movimento da Legalidade, que mobilizou os civis e a Brigada Militar (como os gaúchos chamam a polícia militar) em armas contra o governo federal. Em 22 de agosto de 1976, o ex-presidente da República Juscelino Kubitscheck, o JK (1956 a 1961), morreu em um misterioso acidente automobilístico na Rodovia Presidente Dutra (São Paulo a Rio de Janeiro). Em 1992, o presidente Fernando Collor de Mello, o Caçador de Marajás, estava encurralado por escândalos de corrupção e resolveu pedir à população para que fosse para as ruas vestindo as cores da bandeira do Brasil em apoio ao seu governo. A população foi para a rua, mas vestindo preto em protesto contra o presidente. Collor renunciou ao mandato e foi cassado. E, por último, em 13 de agosto de 2014, Eduardo Campos, que concorria à Presidência da República, morreu em um acidente aéreo.

Estou usando a história do mês de agosto como gancho para refletirmos sobre o atual momento brasileiro. Começo falando que em todos os agostos citados (1954, 1961, 1976, 1992 e 2014) o rolo na política, economia e saúde pública não era tão grande como nos dias atuais. A pouco menos de dois meses das eleições presidenciais, a manchete sobre um golpe militar voltou aos noticiários por conta das ameaças do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), um capitão reformado do Exército saudosista do regime militar que governou o país de 1964 a 1985. Bolsonaro, desde que assumiu o mandato, em 2018, só tem armado confusão. A primeira, que o tornou uma personalidade internacional, foi ter transformado em política de governo o seu negacionismo em relação ao poder de contágio e letalidade do vírus da Covid-19, que causou uma pandemia que matou mais de 5 milhões de pessoas ao redor do mundo e 670 mil no Brasil. Toda a situação é explicada em 1,3 mil páginas no relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado da Covid-19, CPI da Covid. A última bronca armada pelo presidente foi convocar os embaixadores de 40 países para falar mal das urnas eletrônicas do Brasil.

Aqui é o seguinte. O grande problema das lambanças do presidente Bolsonaro é que elas se refletem nos mercados. Onde uma das consequências é a desvalorização do real perante o dólar americano, moeda usada no comércio internacional. E cada vez que o real se desvaloriza os preços das mercadorias sobem no varejo. Ao redor do mundo, a economia vive um dos seus piores momentos devido os reflexos da pandemia, agravados pela guerra entre Rússia e Ucrânia, dois grandes produtores agrícolas e de petróleo. Dentro de um ambiente econômico sensível como o atual uma asneira dita pelo presidente do Brasil, um dos maiores produtores de alimentos do mundo, causa um estrago enorme nos mercados. Mesmo que seja uma bravata. Atualmente, o presidente investe em repetir no próximo Dia da Independência a tentativa de golpe que tentou no ano passado – há matéria na internet. Pela primeira vez desde que Bolsonaro assumiu o seu mandato houve uma reação envolvendo vários setores da sociedade contra os ataques à democracia. Está circulando, com mais de meio milhão de assinaturas, a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”. A iniciativa foi da Faculdade de Direito, da Universidade de São Paulo. A inspiração dessa carta foi a de agosto de 1977, na comemoração do sesquicentenário da fundação dos cursos jurídicos no país. O professor Godofredo da Silva Telles Júnior leu a Carta aos Brasileiros, que denunciava a ilegalidade do governo militar e convocava uma Assembleia Nacional Constituinte. Além dessa carta, há uma pressão internacional, principalmente do governo dos Estados Unidos, para que o resultado das urnas seja respeitado pelo governo Bolsonaro.

Não vou especular sobre o que pode acontecer em agosto. Vou citar um fato. Na primeira semana de julho foi aprovada pelo Congresso Nacional a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) conhecida como a PEC da Bondade, que liberou mais de R$ 50 bilhões para o governo gastar em auxílio social. A ideia dos dois pilares que apoiam o governo, os parlamentares do Centrão e os Generais do Bolsonaro, é que esse dinheiro faça reverter nas pesquisas eleitorais o favoritismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP). O dinheiro deve começar a chegar ao bolso dos beneficiários até o final de agosto. Se os efeitos da PEC da Bondade não reverterem a queda de Bolsonaro nas pesquisas o que vai acontecer? Seja lá o que for, se não for dentro da lei, como escrevi no post Golpe de Estado voltou às manchetes depois de mais de meio século, vão todos presos.

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