Moro e Dallagnol querem ser o Padre Kelmon de Bolsonaro ?

Em busca de um lugar debaixo dos refletores no palco da eleição presidencial Foto: Reprodução

Imprensa internacional e governos de vários países ao redor do mundo estão acompanhando a disputa entre o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), que concorre à reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Como se dizia nos tempos das máquinas de escrever nas redações, “os refletores do mundo estão iluminando o palco dessa disputa”. O ex-juiz federal Sergio Moro, 50 anos, e o ex-procurador da República Deltan Dallagnol, 42, querem um espaço debaixo desses refletores que iluminam o palco da campanha eleitoral ao lado do Bolsonaro. Têm sugerido nas suas lives para o presidente o interesse de ocupar o lugar do padre Kelmon, 45 anos, candidato do PTB à Presidência da República, que durante o debate promovido pela Rede Globo, no primeiro turno, foi usado por Bolsonaro para atacar Lula – há matéria na internet. Moro e Dallagnol foram eleitos pelo Paraná, Moro como senador, com 1,9 milhão de votos, e Dallagnol, deputado federal, com 340 mil votos. E pretendem usar seu lugar sob os holofotes para tentar ressuscitar a Operação Lava Jato, que condenou Lula por corrupção e o prendeu por mais de 500 dias. O site The Intercept Brasil publicou diálogos entre Moro e Dallagnol e outros procuradores da força-tarefa da Lava Jato combinando o andamento do processo contra o ex-presidente. O Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou as acusações – há matéria na internet. Esse é o resumo da ópera, como dizia um editor que conheci nos anos 80. É sobre isso que vamos conversar.

Ainda não é público o que pensa o presidente da República sobre a oferta de Moro e Dallagnol de ocupar o lugar do padre Kelmon, que disse ser da Igreja Ortodoxa. Não vou especular sobre as intenções do presidente sobre a oferta porque seria dar munição para a fábrica de fake news. Vou falar sobre fatos. Aprendemos nesses quase quatro anos de mandato do presidente que ele sempre tem quem faça o serviço sujo, pessoas tipo o padre Kelmon e até os seus três filhos parlamentares: Carlos, vereador do Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal de São Paulo. Isso significa que só saberemos se o presidente aceitou a oferta no decorrer da campanha do segundo turno. Lembro que Moro abandonou uma carreira de 30 anos de juiz federal para ser ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro. Lembramos que na época que o Lula foi preso ele era líder das pesquisas para presidente da República. Moro foi para o governo como símbolo da luta contra a corrupção. Inclusive tinha mais popularidade que o presidente. Aconteceu uma disputa entre o ministro e o presidente sobre quem mandava na Polícia Federal (PF). Moro perdeu e se demitiu, em 2020. Um dos motivos pelos quais o presidente queria o controle da PF é que ele lidava com escândalo das rachadinhas, um esquema de pegar uma parte dos salários pagos aos funcionários que trabalhavam no gabinete do seu filho, Flávio, na época que era deputado estadual do Rio.

Moro saiu do governo acreditando que tinha bala na agulha para disputar a Presidência da República. Não tinha. Acabou concorrendo ao Senado pelo Paraná. E para se eleger se reaproximou dos bolsonaristas. Aqui é o seguinte. Padre Kelmon era candidato a presidente pelo PTB e, por isso, estava no debate da Rede Globo. A situação de Moro e Dallagnol é diferente. Eles são parlamentares eleitos que ainda não assumiram os seus mandatos. Portanto, não têm a tribuna do Congresso para se manifestar. Inclusive, a eleição de Dallagnol está sendo discutida na Justiça. Eles estão fazendo os seus ataques a Lula pelas redes sociais. E os posts são repercutidos nos meios de comunicação que defendem a candidatura do presidente, como a Jovem Pan News. A essa altura da nossa conversa, sugiro uma reflexão. O principal esteio da Operação Lava Jato foi um sistema de vazamento de informações para a imprensa comandado por Moro e Dallagnol, que tornavam depoimentos (vídeos ou áudio) dados durante interrogatórios como se fossem provas definitivas. Eles mentiram para a imprensa e conseguiram sucesso graças à concorrência entre nós. Assim que o sistema deles foi desmascarado, descobriu-se que ficaram nas redações as chamadas “viúvas do Moro”, colegas jornalistas que até hoje não acreditam que a Lava Jato pisou na bola. Olha, tanto faz se Bolsonaro for reeleito ou Lula ganhar, Moro e Dallagnol tentarão atrair atenção da imprensa durante os seus mandatos usando os antigos contatos que têm nas redações. E vão atirar contra quem estiver sentado na cadeira de presidente. Os dois sabem o poder que tem uma manchete de um noticiário.

Tenho dito e escrito que só saberemos quem será o próximo presidente da República quando forem concluídas as apurações. Logo depois do primeiro turno, virou assunto de primeira página o fato do presidente ter eleito mais de 100 deputados, 14 senadores e alguns governadores. Isso significa que terá maioria no Senado e na Câmara? Se olharmos pelos números de eleitos, é possível. Mas as coisas não acontecem assim. Por quê? Há muitos interesses em jogo. Só saberemos com o andar da carroça. Para começar, a situação no caso da reeleição do presidente será uma, e no caso de derrota será outra. Mas seja lá qual for a formatação que terá o Senado e a Câmara é certo que Moro irá atrair atenção. A primeira lição que o ex-juiz aprenderá com os seus colegas senadores é que agora o jogo é outro. Ele não é mais juiz. Tornou-se um político de carreira.

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