Bolsonaro viu antes de ser publicado o vídeo nazista do ex-secretário Alvim?

Bolsonaro, Regina Duarte (esquerda) e Roberto Alvim (direita) são personagens de uma história que o último capítulo ainda não foi escrito. Foto: Reprodução.

O que nós repórteres aprendemos sobre o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido – RJ) no seu primeiro ano de governo? O primeiro ensinamento é que, a exemplo de todos os outros que colocaram a faixa presidencial, no minuto seguinte ele já pensava na sua reeleição. Faz parte do jogo político. O diferencial de Bolsonaro em relação aos presidentes anteriores é que ele tem controle absoluto sobre tudo o que acontece ao seu redor que possa comprometer o seu projeto de reeleição. E o sucesso desse projeto passa por conseguir se manter como referência ideológica para os eleitores da direita radical que têm como bandeira o controle da área da cultura do país. O seu colega e ídolo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também precisa manter a sua fidelidade aos racistas que foram importantes na sua eleição, insistindo na construção deu um muro na fronteira com o México. O muro que Bolsonaro prometeu é varrer da cultura todas as manifestações que não estejam de acordo com os ideais ultraconservadores da direita radical, principalmente as dos new pentecostais.

O que aconteceu? Na semana passada, o então secretário da Cultura Roberto Alvim postou um vídeo nas redes sociais lançando o Prêmio Nacional das Artes. No vídeo, ele cita frases usadas por Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Adolfo Hitler, líder do Partido Nazista da Alemanha (1934 a 1945), responsável pelo Holocausto judeu e a morte de outros milhões de pessoas. Alvim foi demitido por Bolsonaro. Aqui chamo a atenção dos meus colegas repórteres para um assunto que passou batido durante todo esse episódio. A imprensa já publicou. O presidente da República é um homem desconfiado, que tem dentro do seu governo a sua própria rede de informações. Portanto, se ele não viu o vídeo antes de ser publicado, alguém da sua confiança o viu. A Secretaria Especial da Cultura, desde 7 de novembro de 2019, é ligada ao Ministério do Turismo, cujo titular, Marcelo Álvaro Antônio, é o mais frágil dos ministros devido a suspeita de estar envolvido com o uso de candidaturas laranja durante a campanha de 2018, em Minas Gerais. Como dizem os repórteres que fazem cobertura policial, o ministro Antônio é “cabeça de lata” – laranja de Bolsonaro e dos seus filhos, que são quem realmente mandam na Cultura.

Não interessa quem irá substituir o ex-secretário da Cultura. Terá que dançar conforme a música tocada pelo presidente e seus filhos, por ser um posto estratégico para a imagem de Bolsonaro perante os seus eleitores ultraconservadores. Foi convidada e aceitou o cargo Regina Duarte, uma talentosa atriz das telenovelas da Rede Globo que até hoje tem um lugar garantido no imaginário popular pelo seu personagem de Viúva Porcina, ao lado do Sinhozinho Malta (Lima Duarte), na novela Roque Santeiro (1985 e 1986). No início do ano passado, ela foi convidada para fazer parte do governo e não aceitou. Nós, jornalistas, publicamos na ocasião e agora estamos repetindo os mesmos argumentos de que o convite se deve ao fato dela ter feito campanha para a eleição de Bolsonaro e ser amiga de Michelle, a primeira-dama. Esse argumento é parte da história. O fato é que Regina Duarte foi convidada por ser uma grife, assim como o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, o homem da Lava Jato, é o símbolo da luta contra a corrupção do governo.

Nós repórteres não podemos perder o foco do que é o governo Bolsonaro. Usam a imagem do Moro para dizer que não tem corrupção no governo. Mas tem e há várias matérias publicadas na imprensa: a última são manobras não explicadas no uso de verbas publicitárias por Fábio Wajngarten, chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom).  Usam os ideais liberais do ministro da Economia, Paulo Guedes, para encobrir o seu forte viés nacionalista e estatizante. A se consolidar como secretária da Cultura, a atriz Regina Duarte terá sua imagem usada para dar cobertura a um setor da máquina governamental que vem sendo aparelhado para colocar em risco a liberdade individual mais cara do brasileiro: direito de escolher. O que acontece entre as quatro paredes da Cultura que levou o ex-secretário a achar que poderia se travestir de Goebbels e não daria em nada? Logo, Regina Duarte descobrirá, e terá que tomar uma decisão que irá influenciar a sua vida pelo resto dos seus dias. Podem anotar.

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