Semelhanças entre os últimos dias de Trump na Casa Branca e os de Hitler no bunker

Entrincheirado na Casa Branca, Trump vive a alucinação de que irá reverter a derrota nas eleições. Foto: Reprodução.

O comportamento do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), nos seus últimos dias na Casa Branca, lembram os do líder nazista Adolfo Hitler no seu bunker, em Berlim, em abril de 1945, quando as tropas aliadas riscavam o mapa da Alemanha, colocando fim à Segunda Guerra Mundial, o mais sangrento episódio da humanidade até os dias de hoje. Transtornado, Hitler vivia a ilusão de que viraria o destino da guerra enviado ordens para tropas que não existiam mais e apostando no mito da superioridade da raça ariana criado pelo seu ministro da propaganda, Joseph Goebbels. Trump continua acreditando que conseguirá evitar que a partir do próximo dia 20 de janeiro o seu cargo seja ocupado pelo democrata Joe Biden, que o derrotou nas eleições de novembro passado. Provando que a eleição foi fraudada. Os advogados que cercam Trump não têm coragem de lhe dizer que acabou, que eles perderam todas as causas na Justiça. A exemplo dos generais que cercavam Hitler e não tinham coragem de dizer ao Führer que a guerra estava perdida. Na última semana, Trump criou um tumulto para assinar um acordo de 900 bilhões de dólares feito entre democratas e republicanos para combater os efeitos da pandemia da Covid-19.

Os dias de Hitler no bunker são contados pela história. Há documentários, filmes de ficção, livros e uma vasta documentação sobre o assunto, produzida principalmente pelos julgamentos de Nuremberg e dos tribunais militares dos Aliados que julgaram os líderes nazistas. Os últimos dias de Trump na Casa Branca estão sendo contados por nós jornalistas. E a cada dia surge uma novidade. A derrota de Trump não significa que as forças que o apoiaram e o elegeram tenham se dissolvido e desaparecido. Não, elas continuam vivas e vão procurar outro líder que as represente. Há várias matérias de colegas americanos sobre o assunto. Uma delas considero bem interessante, a do crítico de TV James Poniewozik, do The New York Times, traduzida e publicada pela Folha (28/12), chamada “Donald Trump perdeu sua batalha, mas a guerra cultural continua acirrada”. Uma coisa é certa. A exemplo de ainda hoje (28/12), 75 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, se discutir as atrocidades praticadas pelos nazistas, em especial o holocausto dos judeus, a administração Trump deixa um legado sobre o qual por muitos anos ainda vamos escrever a respeito. Um deles, que considero uma bomba-relógio no colo de Biden: a imigração ilegal de latinos para os Estados Unidos.

A estratégia usada pelo governo de Trump foi a mesma que Goebbels utilizou para demonizar as minorias na Alemanha – judeus, ciganos e outras etnias – e, com isso, justificar o seu extermínio. Trump vendeu a ideia de que os trabalhadores latinos eram estupradores, assassinos e traficantes para justificar a montagem de um sistema de prisão nas fronteiras americanas que, entre outras barbaridades, separou mães dos seus filhos – há vasto registro na imprensa. Graças a essa política há hoje nos Estados Unidos 500 crianças filhos de imigrantes ilegais sob a custódia da Justiça cujos pais ninguém sabe quem são. Para desativar essa bomba-relógio Biden terá que mandar abri-lá para ver o que há dentro. Certamente encontrará as digitais do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido), um dos apoiadores mais fiéis de Trump. A imigração ilegal de latino-americanos para os Estados Unidos é antiga e se trata de um problema econômico de grande complexidade. Não será resolvido com a construção de um muro na fronteira americana com o México. Muito menos demonizando os ilegais.

O que os apoiadores de Trump farão para encontrar o seu substituto certamente repercutirá no mundo e será uma dor de cabeça para Biden. No Brasil, encontrarão um campo fértil, porque o presidente da República é um fiel defensor das ideias desse grupo e tem a intenção de concorrer à reeleição em 2022. E essa disputa é no campo cultural. Não é por outro motivo que Bolsonaro tem a chamada “pauta de costumes” que pretende enviar à Câmara dos Deputados em 2021. Essa pauta mexe em questões como a definição do que é família, cujo objetivo é definir como núcleo familiar a união de homem com mulher, e a escola sem partido, que pretende impedir a manifestação ideológica dos professores. Aqui eu lembro o seguinte. Durante a Segunda Guerra, os Aliados, para combater a máquina de propaganda nazista, montaram uma enorme e bem lubrificada engrenagem publicitária para vender ao público a sua versão dos fatos. É uma história interessante, que merece ser esmiuçada pelos professores das faculdades de jornalismo. Por quê? Hoje a luta da imprensa é contra a bem estruturada indústria das fake news. Por isso é importante esclarecer os jovens repórteres como tudo isso começou, lá na década de 40, e evoluiu para o que temos hoje, que foi decisivo na eleição de Trump, em 2016, e de Bolsonaro, em 2018. Sobre o assunto há livros, matérias de jornais e documentários, sendo que um deles considero fundamental: Corações e Mentes, produzido pelo Peter Devis, em 1974, a respeito da Guerra do Vietnã.

Pelo contexto em que nós jornalistas vivemos hoje, em uma sociedade com uma tecnologia de informação veloz como nunca foi antes – basta dizer que há menos de 50 anos uma notícia levava um dia para dar a volta ao mundo. Hoje demora um segundo, o tempo de apertar um botão –, precisamos estar muito bem informados sobre os fatos. Isso exige um conhecimento geral bem sólido. O que significa conhecer a história, saber como as coisas chegaram até os nossos dias atuais. Antes, bastava ao repórter ter talento para escrever, fazer um relato na TV ou tirar uma boa foto. Hoje precisamos muito mais do que talento. Precisamos de conhecimento para explicar aos nossos leitores como surge um Trump e um Bolsonaro. As semelhanças entre os últimos dias de Trump na Casa Branca e os de Hitler no bunker não são só ironias da história. Podem apostar.

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