O caso de corrupção de agentes da PF de Minas é a ponta da história não contada da Lava Jato?

É trabalho do repórter descobrir o lado não oficial da operação para o registro correto dos fatos na história do Brasil. Foto: reprodução

Pouco interessa se são ou não vinculados à força-tarefa da Operação Lava Jato os dois agentes da Polícia Federal (PF) de Minas Gerais que repassaram para três advogados cópias de documentos sigilosos de inquéritos em andamento. O fato é que esses documentos foram parar nas mãos da Andréa Neves, irmã do ex-senador e atual deputado federal Aécio Neves (PSDB – MG). Os documentos foram encontrados durante a Operação Capitu, da PF, em novembro de 2018. E deram início à investigação que resultou na Operação Escobar, que no último dia 5 prendeu agentes federais e advogados. Como é do conhecimento, o deputado é investigado em nove processos no Supremo Tribunal Federal (STF) – há um vasto e farto material na internet sobre o assunto. E, até agora, a grande pergunta nos partidos de oposição, especialmente no  PT, é como a Operação Lava Jato ainda não conseguiu botar as mãos em Aécio Neves? Será que a Operação Escobar vai ter essa resposta?

A resposta para essa pergunta vai vir com o tempo. O importante agora é conseguirmos ter acesso às investigações feitas pela Operação Escobar. Ali podemos encontrar informações importantes que nos ajudem a estruturar e contar a história não contada da Lava Jato. Até agora, o que nós, repórteres, contamos foi a história oficial de uma operação que mudou o jeito de fazer política e negócios com o governo federal, o que não é pouca coisa. A história oficial chegou às nossas mãos de duas maneiras: informações que foram tornadas públicas, principalmente por vídeos e áudios das escutas telefônicas. E de vazamentos seletivos de informações, feitos pelos operadores  da operação. Por questão de falta de estrutura causada pelas demissões em massa, a imprensa do Brasil não teve como fazer uma investigação própria sobre as informações divulgadas na operação. Fomos e ainda somos reféns das informações oficiais da operação. Tanto que as publicamos como se fossem verdades absolutas.

Antes de seguir contando a história, eu quero fazer a seguinte afirmação: lembrei que, em junho do ano passado, o ex-procurador da República Marcelo Miller, a advogada Esther  Flesch, o empresário Joesley Batista e o ex-diretor jurídico da JBS Francisco de Assis Silva foram denunciados pelo Ministério Público Federal à Justiça Federal. O motivo da denúncia: quando trabalhava na Lava Jato, na PGR, Miller teria repassado informações privilegiadas para a direção da JBS, que é investigada pela operação. Voltando a contar a história. Existe alguma ligação entre o caso de Miller e dos agentes federais presos? Não soubemos. Aqui chamo a atenção para o seguinte: enchemos os nossos noticiários com conteúdos sobre ataques que a Lava Jato vem sofrendo, todos eles no sentido de parar a operação. Esse tem sido o nosso foco. E os ataques internos, causados por infiltrados entre servidores dos órgãos públicos envolvidos nas investigações? Essa é a história não contada da Lava Jato que temos que publicar.

Por que é importante escrever a história não contada da Lava Jato? Pelo que já produziu, a operação já entrou no cotidiano dos brasileiros e logo, logo vai ser um marco na história do País. Isso independe  da vontade das pessoas que são a favor e das que são contra a Lava Jato.  Cabe a nós, repórteres, unir a história oficial a que não foi contada, para que o nosso leitor  tenha conhecimento com exatidão do que realmente aconteceu. Não é uma tarefa fácil. Mas é possível fazer. Se os repórteres não conseguirem fazer isso, os historiadores irão fazer daqui a alguns anos quando tiverem acessos aos documentos. E daí  eles irão publicar livros em que farão um confronto do que descobriram, garimpando os documentos e o que nós publicamos. E nós publicamos, até agora, a história oficial da Lava Jato. E nada mais constrangedor para o repórter do que escrever a versão oficial dos fatos.

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