Osmar Terra e a primeira-dama foram vítimas de um franco-atirador de calúnias

O franco-atirador de calúnias emerge na disputa política mergulhada na obscuridade. Foto: Reprodução

O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) e a primeira-dama Michelle Bolsonaro foram vítimas de um franco-atirador de calúnias travestido de jornalista que espalhou a história da existência de um caso extraconjugal entre os dois. Esse tipo de personagem emerge no nosso meio nos períodos de obscurantismo na disputa política, como é o atual. E como foi em 1989. Naquele ano, Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) e Fernando Collor de Mello (PRN-AL) disputavam o segundo turno da primeira eleição direta para presidente da República depois do Golpe Militar (1964 a 1985). Foi decisivo para a vitória de Collor o depoimento da ex-companheira de Lula, Miriam, que o acusou: “Ofereceu-me dinheiro para abortar”. Anos depois, em maio de 1992, o irmão do presidente, Pedro Collor de Mello (falecido em 1994), deu um depoimento “arrasa quarteirão” para a revista Veja sobre a corrupção no governo. Collor renunciou em setembro de 1992. Entrou para a história que a briga dos irmãos aconteceu porque o presidente estava assediando a mulher do Pedro, Thereza, hoje política e empresária.

Em 2000, a revista Caros Amigos publicou uma matéria questionando o silêncio da imprensa brasileira sobre o caso extraconjugal entre a jornalista Miriam Dutra Schmidt e o então presidente da República (1995 a 2003) Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP). A primeira-dama do Brasil era Ruth Cardoso (falecida em 2008), antropóloga e professora universitária respeitadíssima no mundo acadêmico. Para entender a anatomia de uma calúnia, eu recomendo aos jovens colegas repórteres a leitura do livro Cobras Criadas (1999), de Luiz Maklouf Carvalho. Em 587 páginas o autor destrincha o cotidiano do jornalista David Nasser em O Cruzeiro, revista semanal (circulou de 1928 a 1975) dos Diários Associados, de Assis Chateaubrian. A história sobre Osmar Terra e a primeira-dama Michelle foi publicada (21/02) na coluna do jornalista Germano Oliveira, na Istoé. Ele comenta que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido, RJ) tem feito “esforço para vigiar a mulher de perto”. Conta que a primeira-dama viajava sozinha pelo Brasil com Terra, então ministro da Cidadania (demitido pelo presidente em 13/02) – há abundante material na internet. Na última semana o caso veio tomando corpo nas redes sociais, o que levou Terra a publicar uma nota no domingo (01/03) negando que tenha existido um caso entre ele e a primeira-dama.

Tudo o que relatei até aqui não é opinião, são fatos que podem ser encontrados nos conteúdos que publicamos. Nos últimos dois dias, tenho recebido vários pedidos de jovens colegas que trabalham pelas redações do Brasil e estudantes de jornalismo para falar sobre o assunto. Portanto, vou dar a minha opinião. A disputa política não é uma partida de futebol e nós repórteres não somos torcedores sentados nas arquibancadas defendendo um dos lados. A disputa política é um assunto sério, e é obrigação do repórter vigiar para que ela aconteça dentro das regras. Mesmo nas mais sólidas democracias do mundo, como é o caso dos Estados Unidos, vez ou outra a baixaria explode nas campanhas. Mas o que está acontecendo hoje no Brasil é um exagero. O grupo político do presidente Bolsonaro montou uma máquina de manipular a verdade, seguindo o exemplo do seu colega americano Donald Trump. Ataques à imprensa, às instituições e desaforos contra opositores não são mais exceções, são regras.  Esse tipo de procedimento jogou a disputa política em um dos seus momentos mais obscuros da história do Brasil. E a única maneira de tirá-la do obscurantismo é praticando o velho e bom jornalismo. Precisamos explicar direito para o nosso leitor a história de Terra e da primeira-dama. Como ela nasceu, como cresceu e se espalhou pelas redes e quem ganha com isso. É trabalhoso, mas não é impossível de fazer.

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